FEBRE DE BOLA

Em época de Copa do Mundo, uma breve resenha sobre um dos melhores livros sobre futebol já publicados – e a sua sinergia com o universo do branding. Trata-se de “Febre de Bola”, do inglês Nick Hornby. Não é um livro novo (a primeira edição é de 1991 e a segunda de 2012), mas já é um clássico que merece ser lido. Longe daqueles clichês sobre estatísticas, táticas de jogo, homenagens e biografias que costumam inundar esse segmento, Hornby toca o dedo na ferida ao mostrar “a vida como ela é” de um pré-adolescente/adolescente franzino, suburbano de Londres e oriundo de uma família de pais recém-separados que, como antídoto às durezas da vida, resolve acolher o Arsenal – tradicional time inglês – como o seu refúgio preferido. Vira uma obsessão, algo quase fora do controle. Uma fuga. Envolvimento com os Hooligans e tudo mais. E tudo isso no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, numa Inglaterra cheia de incertezas e conflitos sociais aliando, ademais, com a descoberta das meninas, poesia, música, literatura e drogas. Nesse cenário conturbado e efervescente, o amor ao time persiste, mas em ondas menos intensas, até retomar depois. Um vai-e-vem louco, uma turbulência que vai muito além do futebol, do jogo em si, mas da dedicação da alma por alguma coisa. E inúmeras lições aprendidas com os tombos também. Por isso, esse livro é tão especial. Deveria, inclusive, ser recomendado em cursos de Marketing e Branding. Sobre a lealdade canina ao Arsenal, Hornby confessa: “…Casamentos nem de longe são tão rígidos – ninguém nunca viu um torcedor do Arsenal dando uma escapada até o campo do Tottenham para uma puladinha de cerca e, embora o divórcio seja uma alternativa…,um novo casamento está fora de questão.” Transportando para o mundo das marcas, tentei associar devoções desse tipo e imediatamente lembrei da Apple e da Harley Davidson. Claro que há outras, mas não gastei muito tempo pensando nisso. Estava preocupado mesmo é com o conceito. Quantas marcas chegam próximas a isso? E por que? Quais são as causas, premissas, casualidades, etc.? Daria um artigo, certamente. Por ora, vale dizer que as marcas que vão muito além da venda de produtos, ou seja, proporcionam experiências, legados, jeitos, personalidades, caras, etc. tem muito mais chances de conquistarem milhares (ou milhões) de loucos da mesma estirpe do Nick e, assim, delimitar grandes territórios diante da concorrência. Sobre o autor, ele continua vivendo em Londres, é um escritor renomado (já publicou diversos romances) e, claro, continua leal ao Arsenal.

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