Antropologia e Marketing

Muitas vezes nós, profissionais de marketing, não nos damos conta de que o nosso ofício é produto de um caldeirão de outras ciências: filosofia, sociologia, história, psicologia, antroposofia, neurociência, linguística, estatística e…antropologia, dentre outras. Assim como o jornalismo está para o crescente marketing de conteúdo, a antropologia está para a inteligência de mercado e a inovação. Não por acaso, as empresas mais antenadas estão cada vez mais recheando as suas equipes de marketing com jornalistas e antropólogos. Intel e Apple são exemplos clássicos. Tendo como alguns dos seus maiores expoentes Claude Lévi-Strauss – em um contexto mais globalizado – e Roberto Damatta – em um espectro notadamente brasileiro, a antropologia tem em seu range de atribuições um potencial enorme para contribuir com o setor privado capitalista, além do já habitual auxílio aos governos e às instituições não-governamentais. Ao se propor à estudar as características, os costumes, os princípios, as crenças, os valores rankeados, as necessidades e os desejos (explícitos e implícitos) de indivíduos e extratos em seus ambientes sociais e em contato com a natureza, a antropologia tem o potencial de gerar inspirações em equipes inovadoras e que, por sua vez, traduzirão esses insights em produtos e serviços diferenciados. Esta é, talvez, a grande ambição da antropologia: gerar inspiração. O quê mais as marcas querem, afinal? Importante frisar que a antropologia bebe fortemente na fonte da etnografia para se distinguir das metodologias tradicionais de pesquisas de mercado. É aí, na verdade, que reside grande parte do seu valor: as suas descrições e conclusões das análises se baseiam em levantamento de dados mais naturais e espontâneos, portanto, mais perto da realidade nua e crua. Obviamente, não se espera do profissional de marketing e das suas ramificações em inteligência de mercado, trade, comunicação, etc. a profundidade dos especialistas das áreas citadas, mas ele deve ter a sabedoria suficiente para entender os benefícios que delas se possam extrair no processo de construção de marca e no gerenciamento do marketing. Talvez o exercício mais difícil da antropologia e, portanto, mais nobre, como já citado – é ver os outros de longe e a si mesmo, também de longe. Em outras palavras, é ter a humildade de tentar compreender a perspectiva do outro – e tudo o que o envolve – e, por outro lado, igualmente nos enxergar a partir do ponto-de-vista dele. Não é fácil, mas pode render bons argumentos para os profissionais de marketing e, em especial, para os responsáveis pela inteligência de mercado e/ou cultura e processos de inovação. O desafio está posto. Neglicenciada ou mal entendida, o fato é: em um cenário complexo e extremamente competitivo, no qual diferenciações consistentes e duradouras são fundamentais para uma sobrevivência com dignidade, as marcas não podem abrir mão de ciências como a antropologia que, no final das contas, nos traz muito do que o mercado (as pessoas) querem nos dizer, mas não tem a oportunidade para tal e nem tampouco a capacidade de fazê-lo com a clareza necessária. Marketing também é a arte de se livrar de pré-conceitos.

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